sábado, 29 de dezembro de 2007

Tenho medo.
Sozinha. De braços soltos ao lado do corpo, balançando ao ritmo do vento, acompanhada de passos lentos. Caminhava. O caminho agora parecia-lhe muito maior, as horas custavam a passar e há muito tempo que deixara de se rir daquela meneira que só ele conhecia. Todos os dias faziam aquele caminho, lado a lado com o mar, de mãos dadas. Ah, como ela gostava de andar de mãos dadas com ele pela vida! Achava que não havia maior prova que eram um só, se não nesses momentos. Dava importância demasiada ao simples facto dos seus dedos entrelaçados...
Parou agora e sentou-se, desta vez frente a frente com o mar. Encarou a realidade. Ele tinha ido embora. De súbito, uma lágrima deixou-se cair. "São cabelos..." como sempre lhe dizia. Ficou ali, uns minutos, até que o vento se fez frio e a noite escureceu. Levantou-se e fez todo o caminho de volta. Era a parte que sempre menos gostava. Quando finalmente um «paraíso» se avistava ao longe, tinha de voltar para trás. Nunca o conseguia alcançar, acabava virando as costas antes de lhe poder tocar. Um dia ele prometeu-lhe que lá haviam de ir...
Já quase a chegar a casa, à casa deles. Parou de novo. Hoje o dia estava a ser mais difícil que qualquer um. Ele há dias que não dava sinais de vida. Há muito tempo que não recebia uma carta dele prometendo que voltava. Olhou para a casa, pequena em frente ao mar. O que sempre sonhou. Lembrou-se do esforço que ambos fizeram para a construir. Bastante perfeccionistas pois tudo teria de ficar perfeito, tal como nos sonhos. Na verdade, lutaram muito mas alcançaram aquela perfeição. Era a casa deles, a mais bonita de todas. Aí sorriu. Lembrou-se de tudo o que juntos passaram. Por vezes longes do olhar, mas perto do coração... Lembrou-se dos beijos ao entardecer, dos olhares, dos momentos, das manhãs que acordaram lado a lado. Aí sorriu. Pensou: porquê desistir agora?

Ele voltará, e desta vez será para sempre.

Abriu o correio, uma carta...

« Tenho saudades tuas »



( outra vez escrevo para ti. É tão bom reencontrar-te no meu baú das memórias. Deixaste marcas em mim. Quero alguma coisa parecida na minha vida, preciso.. )

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